Segundo Hayek, o pensador em quem o racionalismo construtivista encontrou sua mais completa expressão foi René Descartes. Embora a preocupação imediata de Descartes fosse a de desenvolver critérios para estabelecer a verdade de proposições (ele a princípio se conteve de extrapolar conclusões para os campos moral e social), seus seguidores não tardaram a valer-se destes critérios para julgar a propriedade das ações humanas.
Já que para Descartes a razão era definida como a dedução lógica de premissas explícitas, a ação racional passou a ser considerada apenas como aquela que era inteiramente determinada por uma verdade conhecida e demonstrável. Extrapolando isso para o campo social, todas as realizações humanas seriam um produto da razão cartesianamente concebida. Nesta concepção, instituições e práticas que não foram projetadas de uma maneira específica podem ser benéficas apenas por acidente. Assim, firmou-se a característica atitude de desconsideração, por parte do construtivismo cartesiano, para com a tradição, o costume e a história em geral. Segundo a abordagem construtivista, a razão do homem basta para que ele construa uma nova sociedade.
Essa abordagem racional-construtivista produz uma propensão a descrever todas as instituições culturais (moral, religião, direito, linguagem e escrita, dinheiro, mercado, etc.) como oriundas de invenção ou projeto. Esta narrativa intencionalista ou pragmática da historia foi bastante característica das concepções contratualistas de formação da sociedade, primeiro em Hobbes e depois em Rousseau. Mesmo que as teorias destes não fossem entendidas como a descrição histórica de como as coisas realmente aconteceram, sempre pretenderam consistir em parâmetros para decidir se uma instituição existente era racional ou não.